O quanto a pirataria afeta os lucros de estúdios e gravadoras? ~ Rodrigo Ghedin

Um dos argumentos mais fortes de quem condena a pirataria é o das perdas que ela gera à indústria. Associações como a RIAA e a MPAA alegam rombos milionárias quando justificam suas ações truculentas contra mamães e velhinhas norte americanas que baixaram um punhado de MP3. Mas… será que o problema é tão grave assim?


No blog do Freakonomics, aquele do livro, Kal Raustiala e Chris Sprigman tentaram desmitificar as tão alardeadas perdas que a pirataria ocasiona. De lá (grifos meus):
“Então, qual o número real [de perdas em dólares]? Neste ponto, nós simplesmente não sabemos. E isso nos leva a um segundo problema: um que não é muito sobre dados, mas efeitos reais à economia. Certamente há um monte de pessoas que baixam músicas e filmes sem pagar. Está claro que, ao menos em alguns casos, a pirataria substitui uma transação legítima — por exemplo, uma pessoa que compraria o DVD do novo filme de vampiros da Kate Beckinsale (quem é ela, aliás?) mas em vez disso o baixa de graça no BitTorrent. Em outros casos, a pessoa pirateando o filme ou música jamais o compraria. Isso é especialmente verdade se o consumidor vive em um país relativamente pobre, como a China, e é simplesmente incapaz de arcar com o pagamento dos filmes e músicas ela que baixa.
Nós devemos contar essa última categoria de downloads como ‘vendas perdidas’? Não se formos honestos.
E ainda há outro problema: mesmo nas vezes em que a pirataria via Internet resulta em uma venda perdida, como essa afeta o mercado de trabalho? Enquanto empregos são perdidos na indústria da música ou cinema, eles talvez sejam criados em outras. O dinheiro que um pirata não gasta em músicas e filmes é quase que certamente gasto em outro lugar. Digamos que ele seja gasto em skate — o mesmo dólar perdido pela Sony Pictures talvez seja ganho pela Alien Workshop, uma empresa que fabrica skates.”
É o outro lado da moeda que ninguém da indústria do entretenimento tem o cuidado de olhar. Arrisco dizer por fazer sentido.

Não me recordo se comentei aqui já, em outra oportunidade, mas o modelo que estúdios e gravadoras usam funciona hoje, caso contrário não se investiria tanto e, mais importante, não se teria tanto retorno. Ele funciona de maneira injusta não com as grandes empresas, mas com o “otário” que paga para ver um filme e escutar uma música, que acaba por subsidiar a pirataria.

Daí alguém pode dizer que baixar os preços é a solução, daí a gente vê apps e jogos para celular de US$ 1 sendo pirateados derrubar essa tese. O ponto é: não há uma receita de bolo para escapar da pirataria. A única certeza é que ações “8 ou 80″ não surtem efeito. Nunca. Por mais elaborada que seja uma estratégia anti-pirataria, ela cai e, o que é pior, acaba por irritar justamente quem banca essa bagaça toda, o cara que paga. Não são os piratas que detestam DRM, eles quebram e burlam toda e qualquer proteção em tempo recorde; são os consumidores legítimos que pagam o pato — em dobro.

Em um mundo ideal, todo mundo pagaria um valor justo para se divertir, as gravadoras e estúdios não se entupiriam de tanta grana que ganham nessa brincadeira, todos seríamos felizes com um sistema econômico saudável, mais justo, fechadinho, sem disparates entre o que ganha menos e o que ganha mais. Utopia, claro. É difícil encontrar uma saída para essa bagunça. O sistema está quebrado, o que se vê são ações para remediá-lo, não solucionar o problema. Eu não sei a solução (ah, se soubesse…), mas acredito piamente que, para começo de conversa, deva haver uma flexibilização de todos os envolvidos, muita gente tem que dar o braço a torcer, se contentar com menos (dinheiro, conteúdo, menos tudo). O triste é que até isso soa utópico atualmente…

Rodrigo Ghedin



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